Na ilha grega de Ikaria, as pessoas esquecem-se regularmente da sua idade. Não porque sejam dementes, mas porque isso simplesmente não parece importante. Elas chegam aos 90, 95, 100 anos de idade enquanto ainda cultivam os seus próprios legumes, fazem vinho e dançam até altas horas da noite nas festas da aldeia. E Ikaria não é única — existem cinco lugares na Terra onde isso é normal.
As Zonas Azuis Descobertas
O investigador Dan Buettner questionou-se por que razão alguns locais têm muito mais centenários do que outros. Ele descobriu cinco regiões onde as pessoas não só vivem mais tempo, mas também envelhecem de forma mais saudável. Chamou-lhes Zonas Azuis, em referência aos círculos azuis que desenhou no mapa.
Estes locais são tão diferentes quanto se pode imaginar. Aldeias nas montanhas da Sardenha, onde os pastores ainda caminham quilómetros atrás das suas ovelhas. A tropical Nicoya, na Costa Rica, onde as pessoas ainda realizam trabalhos físicos pesados aos 80 anos. Okinawa, no Japão, conhecida pela Segunda Guerra Mundial, mas agora famosa pelos seus idosos cheios de vitalidade.
O que estes lugares têm em comum não é a sua localização ou cultura, mas a forma como as pessoas vivem lá. E essa é a parte fascinante: muitos desses hábitos podem ser aplicados em qualquer lugar.
O segredo está no comum
A primeira coisa que se nota nos residentes da Zona Azul é como a sua vida parece normal. Eles não vão ao ginásio, não seguem dietas nem tomam comprimidos. Eles apenas fazem o que sempre fizeram, dia após dia.
Na Sardenha, os pastores ainda caminham quilómetros diariamente atrás dos seus rebanhos. Não porque é saudável, mas porque é o seu trabalho. Em Ikaria, os idosos caminham até à praça da vila todos os dias, não para fazer exercício, mas para se encontrarem com os amigos.
Essas pessoas não se movimentam porque precisam, mas porque a sua vida é organizada de forma que o movimento aconteça naturalmente. As suas casas ficam em colinas, elas não têm carros para distâncias curtas e o seu trabalho exige atividade física.
O que comem (e especialmente o que não comem)
A alimentação nas Zonas Azuis é incrivelmente simples. Legumes da própria horta, feijões cultivados há gerações, nozes de árvores locais. A carne está presente, mas mais como um realçador de sabor do que como prato principal. Em Okinawa, as pessoas tradicionalmente comiam carne de porco talvez uma vez por mês, em ocasiões especiais.
O que eles não comem talvez seja mais importante. Nada de alimentos processados, bebidas açucaradas ou fast food. Não porque essas coisas sejam proibidas, mas porque simplesmente não existem. Se estiver com fome em Ikaria, você pega uma maçã ou um punhado de nozes, não uma barra de chocolate.
Eles também têm um hábito interessante: param de comer antes de ficarem satisfeitos. Em Okinawa, chamam-lhe «hara hachi bu» — coma até ficar 80% satisfeito. Esta regra simples evita comer em excesso e mantém o peso corporal estável.
Família e amigos como remédio
Em todas as Zonas Azuis, a vida gira em torno da família e da comunidade. Os avós vivem com os seus filhos e netos. Os vizinhos cuidam uns dos outros. Todos conhecem todos.
Isto não é nostalgia romântica — tem efeitos mensuráveis na saúde. A solidão é tão prejudicial à saúde quanto fumar. Pessoas com laços sociais fortes vivem, em média, 3 a 5 anos a mais do que pessoas que vivem isoladas.
Em Okinawa, eles têm os «moai» — pequenos grupos de amigos que se apoiam mutuamente ao longo da vida, financeira e emocionalmente. Na Sardenha, os homens vão todos os dias à praça da vila para conversar e jogar dominó. Parece uma perda de tempo, mas na verdade é uma terapia.
Todos eles têm um motivo para se levantar
As pessoas nas Zonas Azuis não se reformam no sentido que conhecemos. Continuam a fazer o que consideram importante até que já não sejam fisicamente capazes. Um senhor de 90 anos na Costa Rica ainda cuida dos seus cavalos. Um senhor de 95 anos em Ikaria ainda faz o melhor vinho da aldeia.
Eles têm o que os japoneses chamam de «ikigai» — uma razão para viver. Não precisa ser nada grandioso. Para um, é cuidar dos netos; para outro, é fazer queijo tradicional; para outro ainda, é transmitir sua sabedoria aos jovens.
Esta sensação de ser útil, de ainda ser necessário, dá às pessoas energia e vontade de se manterem saudáveis. O oposto — sentir-se supérfluo — pode ser literalmente mortal.
O stress existe, mas não se acumula
Os residentes da Zona Azul têm tanto stress como todas as outras pessoas — talvez até mais, devido à incerteza económica. Mas desenvolveram formas de não deixar esse stress acumular-se.
Em Ikaria, eles tiram uma soneca à tarde. Não porque são preguiçosos, mas porque respeitam o seu ritmo biológico. Os pastores da Sardenha reservam tempo para longos almoços com vinho e conversas. Os habitantes de Okinawa meditam ou praticam tai chi.
Não se trata de evitar o stress, mas de ter regularmente momentos de relaxamento em que o seu corpo possa recuperar. O stress crónico sem recuperação é o que destrói o seu corpo — o stress curto seguido de relaxamento pode, na verdade, torná-lo mais forte.
O que podemos aprender com isto
Não precisa de se mudar para uma ilha remota para aprender com as Blue Zones. Muitos dos seus hábitos podem ser adaptados à vida moderna.
Comece com movimentos que não pareçam desporto. Suba as escadas, vá a pé até à loja, faça jardinagem. Torne o movimento parte do seu dia, em vez de uma tarefa extra.
Coma mais vegetais e menos junk food processada. Não precisa ser perfeito — as pessoas da Zona Azul também comem bolo ou bebem vinho às vezes. O importante é a base da sua nutrição.
Invista em relacionamentos. Ligue para a sua família, encontre-se com amigos, conheça os seus vizinhos. Reserve tempo para conversas reais, sem distrações de telefones ou TV.
Encontre o seu ikigai - o que dá sentido à sua vida? Não precisa de ser o seu trabalho. Talvez seja um hobby, trabalho voluntário ou simplesmente ser um bom pai ou mãe.
A realidade da vida moderna
É claro que a nossa vida é diferente da dos residentes da Zona Azul. Temos carros, empregos de escritório, agendas ocupadas. Nem todos podemos cultivar os nossos próprios vegetais ou caminhar até à praça da vila diariamente.
Mas os princípios permanecem os mesmos. Trata-se de organizar a sua vida para que as escolhas saudáveis se tornem as escolhas fáceis. Comprar uma bicicleta em vez de usar apenas o carro. Ter vegetais em casa em vez de batatas fritas. Reservar tempo para os amigos, tal como reserva tempo para reuniões.
As Blue Zones mostram que o envelhecimento saudável não vem de comprimidos ou tratamentos especiais, mas de uma vida que apoia naturalmente a saúde. Não é um projeto que se começa aos 50 anos - é a forma como se escolhe viver todos os dias.
Pequenas mudanças, grande impacto
O que é bonito nas lições da Blue Zone é que elas não são dramáticas. Sem dietas extremas, sem programas de treino exaustivos, sem terapias caras. São apenas pessoas a viver uma boa vida de acordo com a sabedoria antiga.
Eles mostram que saúde e felicidade são muitas vezes a mesma coisa. Tempo com a família, trabalho significativo, boa comida, movimento suficiente, bons amigos - essas são as coisas que fazem a vida valer a pena e mantêm o corpo saudável.
Talvez não possamos todos chegar aos 100 anos como nas Zonas Azuis. Mas podemos tentar tornar os anos que temos o mais plenos, ricos e vitais possível. E quem sabe, talvez então também nos esqueçamos de envelhecer.
Estas informações têm fins educativos e não substituem o aconselhamento médico. Consulte sempre um profissional de saúde para obter informações e orientações personalizadas.